
Este painel estabelece um diálogo entre dois projetos em curso sobre análise dos media:
Online Hate Speech e Media Representation on Migrants / Refugees
1 – Discurso de Ódio online
Com o súbito crescimento global do uso da Internet, os comportamentos problemáticos existentes no mundo real rapidamente passaram para a arena virtual. Atos de intolerância e preconceito, juntamente com mensagens de perseguição e discriminação, passaram a estar presentes na Internet, promovendo a divulgação de conteúdos tóxicos e incitando a comportamentos criminosos. Todas as variáveis sociológicas, desde a etnia ao género, da idade à classe social, estão sob ataque, ao mesmo tempo que todas as formas de identidade – sejam elas sexuais, religiosas, ideológicas, políticas ou físicas – se tornaram presas fáceis daqueles que se consideram superiores. Lado a lado com o bullying, o flaming ou o trolling, o discurso de ódio encontrou uma nova e gigantesca plataforma de disseminação e contaminação. Nenhum grupo minoritário e nenhuma comunidade socialmente vulnerável está a salvo.
Numa época em que populações de África e do Médio Oriente enfrentam enormes desafios, como o terrorismo e a guerra civil, muitos são frequentemente forçados a deixar tudo para trás à procura de segurança e da sobrevivência. Não surpreendentemente, os meios de comunicação online ocidentais, propensos à adoção das flutuações e inconsistências das agências de informação mainstream, também dão voz a uma avalanche de haters, que prosperam nas caixas de comentários, abertas e normalmente sem moderação, dos jornais online.
Este painel acolhe propostas sobre formas e estruturas linguísticas, assim como estratégias e mecanismos pragmáticos do discurso de ódio online contra migrantes na Europa atual. Que padrões demonstram os exemplos analisados? Que regularidades se encontram na forma como os haters se expressam? Que atos discursivos põem em prática? Que pressuposições acarretam? A que tropos, expressões idiomáticas, ou convenções lexicais recorrem? Em suma, como é que a linguagem codifica e propaga a intolerância em relação ao Outro?
Coord.: Isabel Ermida (EHum2M) & Idalete Dias (GHD), PI & co-PI do FCT project NETLang: The Language of Cyberbullying: Forms and Mechanisms of Online Prejudice and Discrimination in Annotated Comparable Corpora of Portuguese and English
2 – Representações nos Media
Pretendemos analisar criticamente representações mediáticas de migrantes, refugiados e ‘outros internos’ em Portugal e na Europa, mapeando as suas interconexões com narrativas produzidas no domínio da segurança e no quadro da Guerra ao Terrorismo. O seu foco, uma análise de Portugal à luz de estudos de caso europeus profundamente afetados por ameaças terroristas (Rússia e França) e por fluxos migratórios/de refugiados (Itália e Alemanha), pretende investigar a construção de narrativas transnacionais de risco que permeiam a Europa independentemente da sua exposição ‘diferenciada’. Assim, analisar-se-á:
a) Como é que os meios de comunicação representam migrantes, refugiados e ‘outros internos’ no contexto da Guerra ao Terrorismo e de securitização?b) (Re)produzem ou não narrativas de pânico moral e securitização através de construções específicas de Alteridade? Se sim, qual o papel de tropos de raça, género, idade e religião nestas representações? c) Ou, pelo contrário, veiculam representações que podem promover uma ontologia de paz e solidariedade?
A abordagem epistemológica do projeto baseia-se no papel constitutivo dos discursos, isto é, no modo como determinadas perceções, representações e mitologias são mobilizadas, intencionalmente ou não, por determinados atores, e como estes discursos influenciam determinadas perceções e práticas de segurança. O foco recai nas precondições discursivas e ontológicas que permitem/impedem a mudança política.
Coord.: Sílvia Roque, co-PI de DeOthering: POCI-FCT Project Deconstructing Risk and Otherness: hegemonic scripts and counter-narratives on migrants/refugees and ‘internal Others’ in Portuguese and European mediascapes