É com imensa satisfação que divulgamos o programa da Conferência Internacional WOMANART – Mulheres, artes e ditadura. Portugal, Brasil e países africanos de língua portuguesa, a decorrer em regime misto (presencial e online) nos dias 18 e 19 de novembro de 2021.
A Rama Plataforma apresenta, com muita alegria, a palestra O LIVRO DE ARTISTA COMO ARQUIVO FEMINISTA, com Edma de Góis e Márcia Oliveira.
A crítica de arte Griselda Pollock afirma que “um museu feminista não é um repositório de items identificáveis e expostos como algo ‘feminista’ (…) Não é uma perspectiva para colecionar coisas feitas por ‘mulheres’. É uma prática de trabalho, um laboratório crítico e teórico que intervém e negocia as condições de produção e, claro, o fracasso da ‘diferença sexual’ enquanto eixo crucial dos significados, do poder, da subjectividade e da mudança”.
Inspiradas no pensamento de Pollock, nesse encontro internacional entre Brasil e Portugal, possibilitado pelo modo remoto, Edma de Góis e Márcia Oliveira vão olhar para o livro de artista como um arquivo feminista, também compreendido como uma prática de arquivo da poética e da política da intimidade. Cecilia Vicuña, Louise Bourgeois e Lourdes Castro são algumas das artistas evocadas durante essa conversa que parte das artes, mas que nos instiga a pensar também sobre outros campos de produção de mulheres artistas.
— Edma de Góis é jornalista e doutora em Literatura e Práticas Sociais pela Universidade de Brasília (UnB), com estágio na Universidade do Minho (Portugal) junto ao Grupo de Investigação em Género, Artes & Estudos Pós-coloniais (GAPS). Em sua pesquisa de pós-doc atual, estuda narrativas brasileiras contemporâneas e estratégias de leitura, a partir de categorias como livro de artista e curadoria. É professora colaboradora no Programa de Pós-Graduação em Estudo de Linguagens da Universidade do Estado da Bahia (UNEB).
Márcia Oliveira é pós-doutoranda em Estudos Artísticos/História da Arte no Centro de Estudos Humanísticos da Universidade do Minho. É pesquisadora do grupo em Género, Artes; Estudos Pós-Coloniais e integra o projeto de investigação Mulheres, artes e ditadura: os casos de Portugal, Brasil e países africanos de língua portuguesa (2018-2021). Foi visiting scholar na Rutgers University, EUA (2016). Mestre em Estética pela Universidade Nova de Lisboa, concluiu o doutorado na UMinho em 2013 com tese sobre arte e feminismo em Portugal no contexto pós-revolução.
Quando? Sábado, 25 de setembro das 10h às 12h
Essa conversa não tem como pré-requisito qualquer formação específica – é voltada para todos aqueles que se interessem pelo tema. Inscreva-se agora pelo site https://www.ramaplataforma.com/
O evento decorreu de 19 a 30 de julho de 2021 em formato on-line e reuniu pesquisadoras, estudantes, ativistas, artistas, professoras e interessadas nas questões que envolvem o gênero, as mulheres, feminismos e sexualidades. A conceção geral do evento coloca-se no debate atual dos feminismos e das visibilidades de minorias, reconhecendo a importância das vozes que falam por si e por um comum compartilhado, reivindicando direitos, quando e sempre que o contexto e a força das mediações as ameaçar de silenciamento.
A mesa-redonda Mulheres, Artes e Ditadura: memórias, (re)visões, resiliência explorou a forma como escritoras, críticas e artistas comentam/ interpretam as memórias da ditadura portuguesa e brasileira enquanto referências coletivas que se refletem nos atuais debates sociais e culturais. No caso português, a memória da ditadura é indissociável do processo de descolonização, sendo que a ditadura portuguesa foi/é particularmente exposta quando encarada a partir de África. Hoje em dia, a análise das memórias coletivas relativas a este período, tal como foram textualizadas em narrativas diversas consistem num poderoso meio para repensar desafios atuais face a temas como globalização, migrações, comunidades minoritárias, identidade cultural, memória coletiva e eurocentrismo. Através da análise de diversos estudos de caso das áreas da literatura, das artes visuais e do cinema, serão abordadas temáticas específicas que informam o actual momento de re-visões e re-interpretações da História de uma perspectiva pós-colonial e dialógica, nomeadamente a partir da obra de artistas como Paula Rego, Adriana Varejão, Rosana Paulino, Ana Vidigal. Temas como o racismo, a descolonização, as lutas políticas na clandestinidade, a vulnerabilidade dos imigrantes e os mal-entendidos gerados por diferentes referências culturais foram abordados criticamente privilegiando a obra literária de autoras africanas de língua portuguesa: Lília Momplé (Moçambique), Orlanda Amarílis (Cabo Verde), Conceição Lima (S. Tomé e Príncipe), Isabela Figueiredo (Portugal). Por fim, nesta mesa redonda fez ainda uma incursão pelo universo cinematográfico e pela questão da memória cultural, com um enfoque sobre Portugal e o Estado Novo, a partir de trabalhos de realizadoras como Susana de Sousa Dias, Inês de Medeiros, Margarida Cardoso e Solveig Nordlund. Esta mesa redonda insere-se nas atividades projeto de investigação WOMANART. Mulheres, Artes e Ditadura. Os casos de Portugal, Brasil e países africanos de língua portuguesa (PTDC/ART OUT/28051/2017), financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia, a ser desenvolvido no Centro de Estudos Humanísticos da Universidade do Minho (Portugal).
O arquivo Womanart – composto pelas entradas abaixo listadas, organizadas por ordem alfabética – constitui uma espécie de glossário da investigação realizada pelos membros do projeto, explicitando a atividade na qual cada uma das autoras e artistas referidas foi abordada. Este arquivo, que de modo nenhum pretende ser exaustivo, disponibiliza ainda, para memória futura, uma seleção de mulheres cuja obra se relaciona com as temáticas abordadas pelo projeto Womanart, nomeadamente, a resistência a formas de opressão como a ditadura, o patriarcado (dentro de uma visão nacionalista e imperialista) e a colonização. Por fim, no seu conjunto, a listagem destes nomes como dignos casos de estudo propõe, por si só, uma história alternativa das artes no mundo de língua portuguesa, que se insurge contra a rasura e o silenciamento, compondo um cânone feminino. Objetivos estes que nortearam todo este projeto de investigação, como um contributo para a visibilidade e reconhecimento da autoria feminina no período em questão.
Adriana Varejão: Artista plástica brasileira contemporânea que tem na pintura o maior campo de sua produção. A artista, cria pinturas e instalações que questionam as relações sociais construídas em um passado colonial, incorporando elementos de outras linguagens, como a escultura e elementos barrocos em diálogo com a arte contemporânea. Em suas obras, os materiais estão ligados simbolicamente à história cultural brasileira.
Artista abordada no Curso Breve Womanart (fev. 2021) e na Mesa-redonda Fazendo Género 12, Julho 2021 (Re-Visões e Re-significações da História: Adriana Varejão e Paula Rego em ‘encontro colonial’). Apresentação: Ana Gabriela Macedo.
Alda do Espírito Santo: Poeta e ativista São Tomense, foi fundadora da associação de escritores do seu país e veio a desempenhar vários cargos de grande responsabilidade política como o de Ministra da Educação e Ministra da Cultura. Chegou a ser presa pelas autoridades portuguesas pelas suas atividades políticas em prol da libertação de São Tomé. Denunciou o Massacre de Batepá nos circuitos internacionais comprometidos com a libertação das colónias portuguesas. Foi também a primeira mulher na literatura do seu país e tornou-se uma estimada referência coletiva na vida do arquipélago.
Alda Lara: Poeta angolana que se destacou na geração de jovens autores que frequentou a Casa dos Estudantes do Império (Lisboa e Coimbra) por volta de 1950. Publicou os seus poemas nas antologias e boletim desse mesmo meio estudantil, que foi afinal aquele onde se cruzaram os futuros líderes dos movimentos de libertação. Também tem textos publicados na imprensa. O reconhecimento de Alda Lara como figura fundadora da literatura moderna, escrita, de Angola reserva-lhe um lugar no cânone da sua literatura nacional, tanto mais que é tida como a primeira escritora de Angola.
A poeta foi abordada no Seminário WOMANART #22 – 22 de setembro de 2020 – Phillip Rothwell (Oxford University) – “A Mãe Negra torna-se Mãe Transnacional: A Evolução da Maternidade na Literatura Angolana de Alda Lara a Djina”. Disponível em: https://youtu.be/SI8B1_pzwrM
Ver artigo:
Passos, J. F. da S. de M. V. (2020). A Casa dos Estudantes do Império (CEI), as poetas africanas da década de 50 e os filmes de Sarah Maldoror. Diacrítica, 34(2), 148–166. https://doi.org/10.21814/diacritica.515
Alice Jorge: Pintora, gravadora e ceramista portuguesa. Pertence à terceira geração de artistas modernistas portugueses. Começou a expor os seus trabalhos na década de 1950. Foi uma das fundadoras da Gravura – Sociedade Cooperativa de Gravadores Portugueses (1956). Além da gravura, pintura e desenho, trabalhou em cerâmica, azulejo, vidros de arte e tapeçaria. Também foi ilustradora de livros, tendo colaborado em obras de diversos autores.
A artista foi abordada no Seminário WOMANART #23 – 09 de outubro de 2020 – Joana Tomé (Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa) – “Do dissidente feminino na Gravura: fulcral ferramenta de resistência anti-fascista, durante Estado Novo, a partir da obra de Alice Jorge”. Disponível em: https://youtu.be/9AZf6NierXY
Alice Marcelino: Artista visual que explora os temas da tradição, migração e identidade, refletindo sobre o seu significado num mundo globalizado. Nascida em Luanda, Angola, mudou-se para Portugal onde cresceu e viveu grande parte da sua vida. Realizou estudos superiores em Londres, onde atualmente reside. Experimentou várias artes, desde a dança ao teatro, até descobrir e adotar a fotografia como forma de expressão. Dedica-se sobretudo ao género retratista.
Alice Vieira: Escritora e jornalista portuguesa, considerada uma das mais importantes autoras portuguesas de literatura infanto-juvenil. As suas obras foram traduzidas para várias línguas, como o alemão, o búlgaro, o basco, o castelhano, o galego, o francês, o húngaro, o holandês, o russo e o servo-croata.
Alida Rodrigues: Artista angolana que vive e trabalha em Londres, tendo estudado na Slade School of Fine Art. Na sua série The Secret History of Plants, Rodrigues trabalha com postais do século XIX, relíquias do período colonial, expondo a forma como o corpo africano tem sido tratado pela fotografia ao longo da história . Estas imagens são combinadas com ilustrações botânicas, de forma a examinar as relações entre rosto e sua ausência, identidade e alteridade, originalidade e reprodução.
Ana Cristina Silva: Docente e escritora portuguesa, publicou 14 romances e um livro de contos. Por três vezes, foi finalista do Prémio Fernando Namora (em 2011, 2012 e 2013), tendo-o recebido em 2017, com “A Noite Não é Eterna”. Foi também distinguida com o Prémio Urbano Tavares Rodrigues, pela obra “O Rei do Monte Brasil”, em 2012. No romance “As Longas Noites de Caxias” coloca frente a frente duas mulheres de lados opostos, durante o Estado Novo: uma agente e torturadora da PIDE e a única mulher que resistiu às suas torturas.
A escritora participou em uma mesa redonda promovida pelo Projeto WOAMANART no festival literário Correntes d’ Escritas – Póvoa do Varzim. https://ceh.elach.uminho.pt/womanart/?p=1148
Ver:
Seminário WOMANART #11 – 27 de setembro de 2019 – Ana Cristina Silva (ISPA, Lisboa) – “As Longas Noites de Caxias”. Um romance sobre a resistência e a tortura no feminino no tempo do fascismo. Disponível em: https://youtu.be/wdbpCE-CEb0
Ana Hatherly: Académica, poeta, artista visual, ensaísta, cineasta, pintora e escritora portuguesa, a sua produção é profundamente multidimensional e pluridisciplinar, desafiando rótulos e fronteiras. É considerada uma das pioneiras da poesia experimental e da performance em Portugal, sendo que um dos traços definidores do seu percurso é a exploração das relações entre palavra e imagem, desenho e escrita. Em trabalhos como Revolução (1976), Ruas de Lisboa (1977) e Rotura (1977), Hatherly traduz artisticamente a mudança e a liberdade conquistadas com o 25 de Abril.
Ver artigo:
Oliveira, Márcia. “Portuguese Women Artists at the National Society of Fine Arts (1977): why was this not a feminist exhibition?”. In All Women Art Spaces in the Long 1970s, 209-228. Liverpool, Reino Unido: Liverpool: Liverpool University Press, 2018.
Artista abordada na Comunicação ‘At the movies: Paula Rego and Ana Hatherly’s transcultural dialogue with cinema’, na Conferência Women in Transition conference (Londres e Oxford, 20-22 de Setembro de 2018). Apresentação: Maria Luísa Coelho.
Ana Paula Tavares: Historiadora e poeta angolana nascida no Lubango, tem procurado disseminar uma evocação da cultura africana a um nível mais internacional, sendo a sua obra amplamente reconhecida em Portugal e no Brasil. Uma leitura da sua obra poética no seu conjunto revela a requintada expressão de afetos, e o gosto por um certo tom mítico, ou místico, que leva o leitor para universos secretos, rituais. Também se pode extrair da sua obra um convite à reflexão, moldado por indiretos comentários sociais e políticos. Autora de uma obra desafiante e intensa, é digna herdeira do gesto fundador de Alda Lara, ao dar continuidade à presença de vozes femininas na literatura angolana. Embora seja sobretudo poeta, também tem obra publicada em prosa.
Será abordada no artigo de Joana Passos ‘Post Utopia, Post Conflict Literary Trends in 21st Century African Literatures: the Cases of Ana Paula Tavares and Conceição Lima’ (em publicação).
Fotografia de Ana Paula Tavares
Ana Vidigal: Pintora portuguesa (Lisboa, 1960) licenciou-se em pintura pela Escola de Belas Artes de Lisboa em 1984. No seu trabalho, sobrepondo várias técnicas à pintura, Ana Vidigal resgata elementos de memória(s) pessoais, familiares, políticas e culturais. Daí emergem composições que se revelam poderosos constructos estéticos e críticos em torno de questões como o colonialismo, a condição da mulher na sociedade, entre tantos outros temas.
Artista abordada na apresentação:
An ethics of survival: process and archive in the work of Rosana Paulino and Ana Vidigal, Mesa Redonda WOMANART, Fazendo Gênero, Florianópolis. Apresentado por: Márcia Oliveira.
Módulo Curso breve Womanart: Imagem – documento – praxis: a arte como exercício de reinterpretação da história [Image – Document -Praxis: art as re-interpretation of history]. Apresentado por: Márcia Oliveira.
Anna Bella Geiger: Artista plástica, escultora, pintora, gravadora, desenhista, artista intermídia e professora. Desde a década de 1950, integrou mapas e elementos de história natural em muitos de seus vídeos, colagens, pinturas, esculturas e impressões. Nessas obras, ela reconsidera noções de território e identidade, principalmente em seu Brasil natal. Seu trabalho, por vezes, questiona as estruturas e sistemas geográficos que consideramos naturais.
Artista abordada na apresentação:
The ethics of dismantling the appropriation of indigenous’ images in the work of Anna Bella Geiger and Regina Silveira, 1st INTERNATIONAL CONFERENCE “Indigenous Epistemologies and Artistic Imagination”, 24-25 Outubro 2019, Universidade de Barcelona/Museu de Arte Contemporânea de Barcelona. Apresentado por: Márcia Oliveira.
Bárbara Virgínia: atriz portuguesa, personalidade da rádio e realizadora de cinema. Estudou dança, canto, piano e teatro no Conservatório Nacional de Lisboa entre 1940 e 1943. Em 1946, tornou-se a primeira cineasta portuguesa, com o filme Três Dias Sem Deus.
Foi a figura central do documentário Quem É Bárbara Virgínia?, de Luísa Sequeira. O filme foi exibido no I Ciclo de cinema WOMANART e abordado no Workshop Womanart com a participação da realizadora Luísa Sequeira.
Bertina Lopes: Artista moçambicana e transnacional, já que também trabalhou e viveu em Portugal e Itália, vindo a falecer em Roma. A obra de Bertina, frequentemente de cores saturadas e composições ousadas de figuras em forma de máscara e formas geométricas, reflete uma identidade em grande parte definida pelo encontro entre a África e a Europa, num reconhecimento e numa fusão das tradições artísticas herdadas e adquiridas. A artista foi também reconhecida pela crítica social e pelo fervor nacionalista que influenciaram outros artistas moçambicanos do seu tempo, bem como por ter sido uma incansável promotora da paz em Moçambique após a independência deste país.
Carmem Dolores: Atriz portuguesa de cinema, televisão e palco. Participou, entre outros, do filme “Camões” e do programa de televisão “Chuva de Maio”. Recebeu vários prêmios e se tornou a melhor atriz de palco com o Globo de Ouro de Portugal de 2004.
Fotografia retirada de Arquivo Impala.
Conceição Lima: Conceição Lima é autora de quatro livros de poesia e um estudo sobre Luandino Vieira. Nos anos 90 fundou um jornal semanário em S. Tomé (O País Hoje). Também trabalhou em jornalismo no Reino Unido e viveu alguns períodos da sua vida em Portugal. É hoje aclamada como uma das mais maturas poetas africanas de língua portuguesa.
Autora abordada por Joana Passos no artigo ‘Post Utopia, Post Conflict Literary Trends in 21st Century African Literatures: the Cases of Ana Paula Tavares and Conceição Lima’ (em publicação).
Consuelo de Castro: Dramaturga brasileira que se destacou na geração de dramaturgos surgida sob a ditadura no Brasil. Possui um corpo de obras volumoso e diversificado que traz o sentimento de inconformismo e indignação que perpassa tudo que ela escreve. Participou ativamente do movimento estudantil dos anos 1960, tema do seu texto de estreia, Prova de Fogo (1968), que acabou sendo proibido pela Censura. Em 1974, a peça é premiada pelo Serviço Nacional de Teatro, com o título A Invasão dos Bárbaros, sendo encenada apenas em 1993.
Ver:
de Matos, I. D. F. de. (2020). A dialética em estado de exceção: Alegorias da ditadura civil-militar em ’À Flor da Pele’, de Consuelo de Castro. Diacrítica, 34(2), 221–235. https://doi.org/10.21814/diacritica.525
Diana Andringa: Jornalista com uma longa experiência, começou por trabalhar na imprensa, estreando-se em 1967 no Diário Popular. Colaborou, entre outros, com o Diário de Lisboa, a revista Vida Mundial, o Diário de Notícias e Público. Passou para o jornalismo televisivo em 1978. Fez importantes documentários sobre a guerra colonial e tem uma longa história como resistente política, tendo sido presa política durante o Estado Novo.
Djaimilia Pereira: Escritora portuguesa nascida em Angola. Considerada representante de uma literatura acerca de raça, género e identidade, ganhou notoriedade a partir da publicação em 2015 do seu primeiro romance, a autoficção Esse Cabelo. Os seus livros partem de fantasmas íntimos assombrados por fantasmas coletivos e de um amor pelas perguntas sem resposta. Luanda, Lisboa, Paraíso (2018, Prémio Oceanos); ‘A Visão das Plantas’ (Prémio Oceanos) As Telefones (2020); Maremoto (2021)
Artista abordada no Seminário WIPS (Work In Progress). Apresentação: Ana Gabriela Macedo.
Fotografia retirada de Companhia das Letras Portugal.
Elsa Sertório: Produtora da Associação Cultural Kintop, que tem por objetivo produzir filmes e documentários a partir de uma perspetiva artesanal de produção, Elsa Sertório anteriormente trabalhou na produção executiva de dança contemporânea e teatro. Autora dos livros Mulheres Imigrantes (com Filipa Sousa Pereira, Ed. Ela ela, 2004) e Livro Negro do Racismo em Portugal (Ed. Dinosaur, 2001). É também codiretora com Ansgar Schaefer do documentário The Other War (2010).
Emília Nadal: Artista portuguesa, notabilizou-se como uma das artistas mais destacadas da sua geração. Tem vindo a trabalhar não só a pintura e gravura, mas também o desenho e a cenografia. Foi bolseira da Fundação Calouste Gulbenkian em 1977, altura em que desenvolveu obras como “Embalagens para Conteúdos Imaginários” e “Liofilizados” (1976-1979), Skop (1979) ou “Mulher-Ideal” (1977), nos quais funde uma linguagem Pop com uma problematização ideológica mais vasta no contexto do pós-revolução.
Oliveira, Márcia. “Portuguese Women Artists at the National Society of Fine Arts (1977): why was this not a feminist exhibition?”. In All Women Art Spaces in the Long 1970s, 209-228. Liverpool, Reino Unido: Liverpool: Liverpool University Press, 2018.
Filipa César: Artista e cineasta portuguesa interessada nos aspetos ficcionais do documentário, nas fronteiras porosas entre o cinema e a sua receção e na política e poética inerentes à imagem em movimento. Sua práxis considera a mídia um meio de expandir ou expor contra-narrativas de resistência ao historicismo. Desde 2011, investiga as origens do cinema na Guiné-Bissau como parte do Movimento de Libertação da África, seus imaginários e potências cognitivas, desenvolvendo essa pesquisa no projeto coletivo “Luta ca caba inda” (a luta ainda não acabou).
Módulo Curso breve Womanart: Imagem – documento – praxis: a arte como exercício de reinterpretação da história [Image – Document -Praxis: art as re-interpretation of history]. Apresentado por: Márcia Oliveira.
Flávia Castro: Realizadora brasileira que se dedica a trabalhos em ficção e documentário. Escreveu e dirigiu o documentário “Diário de uma Busca” (2011), em que investiga as circunstâncias da morte de seu pai, o jornalista, Celso Afonso Gay Castro. Em 2018, lançou seu primeiro longa-metragem de ficção, “Deslembro”, filme que também aborda a ditadura brasileira, retrata uma adolescente que vive com a família em Paris quando a Anistia é decretada no Brasil.
Seus filmes foram abordados no módulo Realizadoras brasileiras e a ditadura no Brasil: reminiscências, retratos e relatos do Curso breve Womanart (Formadora: Laís Natalino).
Também foi abordada no Seminário WOMANART #20 – 19 de junho de 2020 – Carolin Overhoff Ferreira (Universidade Federal de São Paulo) – “Mulheres indisciplinares e seus filmes sobre a ditadura – Brasil e Portugal”. Disponível em: https://youtu.be/ZHg0wS1yauk
Grada Kilomba: Artista e escritora interdisciplinar portuguesa cujas obras examinam criticamente a memória, o trauma, o género, o racismo e o pós-colonialismo. Usa vários formatos para se expressar, desde o texto à leitura cênica e performance (conhecimento performático). Além disso, combina narrativa académica e lírica.
Artista abordada no Módulo Curso breve Womanart: Imagem – documento – praxis: a arte como exercício de reinterpretação da história [Image – Document -Praxis: art as re-interpretation of history]. Apresentado por: Márcia Oliveira
Helena Almeida: Artista portuguesa mais conhecida pela sua obra fotográfica centrada na auto-representação e na relação entre corpo, pintura e espaço. Filha do escultor Leopoldo de Almeida, figura indissociável do regime salazarista, a radicalidade da obra de Helena Almeida contrasta com o academismo da de seu pai e rompe com o lugar ocupada pela mulher, quer na tradição artística quer na sociedade portuguesa.
Inês de Medeiros: Atriz, realizadora e política portuguesa. Ganhou um Globo de Ouro em 1996. Membro do Partido Socialista, foi deputada à Assembleia da República de 2009 a 2016 e autarca de Almada desde 2017. Realizou o documentário “Cartas a uma Ditadura” em que uma centena de cartas, escritas por mulheres portuguesas, em 1958, foram encontradas por acaso num alfarrabista que não as leu por achar que eram cartas de amor. As cartas eram, na verdade, um convite para que as mulheres se mobilizassem em nome da paz, da ordem, e sobretudo em defesa do salvador da pátria: Salazar.
Katherine Vaz: Escritora luso-americana, autora do romance aclamado pela crítica Saudade (St. Martin’s Press, 1994), o primeiro romance contemporâneo sobre luso-americanos de uma grande editora nova-iorquina. Foi nomeada como um dos 50 melhores Luso-Americanos do século XX e é a primeira luso-americana a ter a sua obra gravada para a Biblioteca do Congresso. A Associação Luso-Americana de Mulheres (Portuguese-American Women’s Association) a nomeou Mulher do Ano em 2003.
Keyezua: Artista angolana, licenciada pela Royal Academy of Arts de Haia. Usa fotografia, filme, pintura, escultura e poemas para contar histórias visuais que expõem o preconceito e defendem o papel da mulher na sociedade contemporânea. Na sua série Fortia, a artista também reflete sobre a sua condição diaspórica.
Krishna Tavares e Danielle Gaspar: Documentaristas, pesquisadoras e parceiras na produtora DocumentART Filmes, Krishna Tavares e Danielle Gaspar são as realizadoras do documentário “Atrás de portas fechadas” (2014), filme que faz parte da programação do II Ciclo de Cinema WOMANART.
O documentário foi abordado no módulo Realizadoras brasileiras e a ditadura no Brasil: reminiscências, retratos e relatos do Curso breve Womanart (Formadora: Laís Natalino).
Letícia Parente: Videoartista e cientista brasileira, cujos trabalhos associam imagens e espaços domésticos, bem como tarefas e objetos quotidianos, a violência, repressão e encarceramento. Ao longo das décadas de 1970 e 1980, Parente criou uma série de performances em vídeo, uma abordagem à performance arte na qual se apresentou perante uma câmara de filmar e não perante uma audiência ao vivo.
Artista abordada no artigo:
Sneed, G. (2020). O disciplinar e o doméstico: Imagens domésticas nos vídeo-performances de Letícia Parente, 1975–1982. Diacrítica, 34(2), 107–131. https://doi.org/10.21814/diacritica.534
Seminário WOMANART #6 – 25 de janeiro de 2019 – Gillian Sneed (City University of New York) – “Gendered Subjectivity and Resistance: Brazilian Women’s Performance-for-Camera, 1974-1982”.
Lília Momplé: Escritora moçambicana. Tem representado o seu país em vários eventos internacionais e integrou o Conselho Executivo da UNESCO em Paris, de 2001 a 2005. É membro de honra da Associação dos Escritores Moçambicanos, onde já exerceu os cargos de Presidente e Secretária-Geral. A sua obra encontra-se traduzida em inglês, francês, alemão, italiano e sueco, e representada em várias antologias nacionais e estrangeiras.
A escritora foi abordada no Curso Breve Womanart no móduloEncontros e mal-entendidos: ver o mundo a partir da África pelos contos de autoras africanas (Formador: Joana Passos).
Lúcia Murat: Realizadora brasileira e ex-integrante da luta armada contra a ditadura militar no Brasil (1964-1985). A experiência da prisão e das torturas durante a ditadura militar exerceu forte influência em sua obra. Seu longa-metragem “Que bom te ver viva” (1989) é um compêndio de histórias, relatos e lembranças dos tempos de prisão. Retomou o tema nos filmes “Quase dois irmãos”, “Uma longa viagem”, “A memória que me contam” e “Ana. Sem título”.
O filme “Que bom te ver viva” foi exibido no II Ciclo de cinema Womanart e foi abordado no módulo Realizadoras brasileiras e a ditadura no Brasil: reminiscências, retratos e relatos do Curso breve Womanart (Formadora: Laís Natalino).
Luísa Costa Gomes: Contista, romancista, dramaturga, argumentista, cronista, tradutora. Publicou 8 romances, 5 colecções de contos, 2 librettos, um deles o libreto da ópera White Raven (“Corvo Branco”) de Philip Glass e Robert Wilson, encenada em Lisboa no Teatro Camões em 1998, no âmbito da EXPO 98, no Teatro Real de Madrid e no Lincoln Center. Escreveu inúmeras peças. O seu mais recente trabalho como dramaturgista, “Macbeths” (the untold story) estreou nas Ruínas do Carmo em Agosto de 2018, com encenação de António Pires; “A Grande Vaga de Frio” (com “Orlando”, de Virginia Woolf). Trabalhou como dramaturga e dramaturgista com vários encenadores (Ana Tamen, Ricardo Pais, Nuno Carinhas, António Pires, Jorge Pinto, Carlos Pimenta, entre outros). Em 2015 foi atribuído o Grande Prémio de Literatura .dst ao romance “Cláudio e Constantino”. Em 2010 foi-lhe atribuído ex-aequo o Prémio Pen Club Português para Melhor Romance, “Ilusão ou o que quiserem” e ao mesmo texto o Prémio Fernando Namora para o Melhor Romance de 2010.
Ver artigo publicado por Ana Gabriela Macedo:
“A Grande Vaga de Frio/ The Great Frost: the ‘transmigration’ of Orlando in Portuguese”, in Journal of Adaptation in Film and Performance 13, 3, 2020, 345-351. https://doi.org/10.1386/jafp_00036_3.
Luísa Sequeira: Investigadora e realizadora portuguesa. Faz curadoria de cinema, trabalha em diferentes plataformas, como, vídeo, filme e fotografia, explorando as intersecções do cinema e dos media emergentes. Estreou a sua primeira longa-metragem documental, “Quem é Bárbara Virgínia?”, filme sobre a primeira realizadora portuguesa. Este documentário foi exibido em vários festivais de cinema, entre eles, o festival Internacional de Roterdão, Mostra de São Paulo e o Doclisboa. Foi, também, o vencedor na categoria de documentário no Festival Caminhos do Cinema Português.
Lygia Bojunga: Escritora brasileira de literatura infanto-juvenil. Sua produção literária caracteriza-se pela transgressão dos limites entre a fantasia e a realidade e aborda questões sociais contemporâneas com lirismo e humor. Foi a primeira autora fora do eixo Estados Unidos – Europa a receber o Prêmio Hans Christian Anderson, o mais importante prêmio literário da literatura infanto-juvenil.
Manuela Jardim: Artista plástica nascida na Guiné-Bissau, estudou escultura na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. A sua obra não só resgata, através da utilização de materiais plásticos reciclados, as dimensões culturais dos têxteis, mas também as suas experiências estéticas e contemporâneas. De particular relevância na obra de Manuela Jardim é o seu projecto sobre os têxteis cabo-verdianos e guineenses, desenvolvido entre 2002 e 2008 no Museu Nacional de Etnologia, em Lisboa.
Margarida Cardoso: Realizadora e professora portuguesa que afirmou-se como um dos nomes mais consistentes do cinema português com “Natal 71” , “Kuxa Kanema – O Nascimento do Cinema” , “A Costa dos Murmúrios” e a sua última longa metragem “Yvone Kane”, filmes que têm em comum o interesse pela temática colonial e pós-colonial, numa perspetiva muito singular, explorando a memória, a perca e a culpa.
Margarida Cordeiro: Psiquiatra e realizadora de cinema documental portuguesa que esteve na vanguarda do Novo Cinema Português. Co-realizou com António Reis a maior parte dos filmes deste cineasta. O cinema de António Reis e de Margarida Cordeiro reflete um universo poético sem paralelo no cinema português, abordando temas ligados à memória e à mitologia popular de Portugal.
Margarida Gil: Realizadora portuguesa. Em 1976, participou na criação do Grupo Zero, cooperativa de produção cinematográfica, com Alberto Seixas Santos, Solveig Nordlund, João César Monteiro, Jorge Silva Melo e Acácio de Almeida, entre outros. Colaborou com Joao César Monteiro em vários filmes, na produção, ou como assistente de realização e actriz. O seu primeiro filme, Relação Fiel e Verdadeira (1989), esteve presente no Festival de Veneza e Rosa Negra (1992) foi seleccionado para o Festival de Locarno. Mantém-se como colaboradora da RTP desde 1975, onde já assinou diversos documentários.
Maria Adelaide Amaral: dramaturga, escritora, roteirista e jornalista luso-brasileira. É autora de diversas obras para o teatro e para a televisão, principalmente minisséries. Sua a produção artística transita em diferentes formas de autoria e seu percurso temático está marcado por textos que se relacionam a dramas familiares e afetivos e aspetos socioculturais de diversos grupos da classe média brasileira.
Ver artigo publicado pela Investigadora Laís Natalino: “Aos meus (queridos) amigos”: A adaptação do romance de Maria Adelaide Amaral para as telas e a memória da ditadura brasileira. Revista 2i. https://doi.org/10.21814/2i.2513
Maria Archer: escritora, teatróloga, historiadora e socióloga portuguesa que viveu em Moçambique, Guiné e Niassa, para além do exílio no Brasil. Dessas vivências, produziu romances, novelas, contos, ensaios, teatro e traduções. Alternou entre a literatura de temática africana e as obras de oposição à ditadura portuguesa, colocando-se em posição excecional no quadro da moderna literatura portuguesa.
Maria Candal: Estreou muito jovem na canção e no teatro de variedades português, tendo feito uma carreira dentro do regime, integrando as tournées pelas colónias e pelo Brasil. Abandonou esse trabalho com o eclodir da guerra colonial. Sendo posteriormente vista como um dos elementos do nacional cançonetismo, tem uma visão lucida e informada sobre o trabalho das mulheres na área do entretenimento durante o fascismo.
Maria Clara Escobar: Realizadora, guionista e poetisa brasileira. Ela escreveu e dirigiu “Os dias com ele” (2012), longa-metragem documental sobre seu pai, Carlos Henrique Escobar, filósofo, professor e dramaturgo que tem uma história marcada pela repressão sofrida durante a ditadura militar. O filme foi premiado em festivais como: Mostra de Tiradentes (Brasil), DocLisboa (Portugal), IBAFF (Festival Internacional de Cinema de Ibn Arabi) e Festival de Cinema de Habana (Cuba).
Seu filme Os dias com ele foi abordado no módulo Realizadoras brasileiras e a ditadura no Brasil: reminiscências, retratos e relatos do Curso breve Womanart (Formadora: Laís Natalino).
Maria de Medeiros: Atriz, realizadora e cantora portuguesa que tem estado envolvida em produções cinematográficas europeias e americanas. No documentário “Repare Bem” (2012), a realizadora aborda a ditadura no Brasil.
A realizadora foi abordada na publicação do Investigador Rui Miranda: “Looking back for ways ahead: Revisioning post-Dictatorship memories in Repare bem (Maria de Medeiros) and Luz Obscura (Susana de Sousa Dias)”. Em Diacrítica http://diacritica.ilch.uminho.pt/index.php/dia/article/view/567
Maria do Céu Guerra: Atriz portuguesa de teatro, cinema e televisão, que apareceu em mais de cinquenta filmes desde 1964. Participou da fundação do Teatro Experimental de Cascais, do “Teatro Ádóque” e da companhia de teatro “A Barraca”.
Maria Manuela Margarido (1825-2007): Poeta de São Tomé e Príncipe. Dedicou-se ao combate anti-colonial. Frequentou a Casa dos Estudantes do Império, e pertence à geração de 1950, aquela que levou a cabo a luta pela libertação das colónias portuguesas. Estudou na Sorbonne, e veio a ser embaixadora do seu país em Bruxelas. Publicou um livro de poesia em 1957, Alto como o silêncio, e deixou o resto da obra dispersa. Faz parte de diversas antologias de poesia africana de língua portuguesa.
Millicent Borges Accardi: Escritora luso-americana, autora de quatro livros de poesia, mais recentemente Only More So (Salmon Poetry, 2016). Recebeu bolsas do National Endowment for the Arts, Fulbright, CantoMundo, Yaddo, Creative Capacity, California Arts Council, Fundação Luso-Americana e Barbara Deming Foundation.
Mónica de Miranda: Artista portuguesa de origem angolana que vive e trabalha entre Lisboa e Luanda. Artista e investigadora, o seu trabalho é baseado em temas de arqueologia urbana e geografias pessoais. Trabalha de forma interdisciplinar com desenho, instalação, fotografia, filme, vídeo e som, nas suas formas expandidas e nas fronteiras entre a ficção e o documentário.
Artista entrevistada por Ana Gabriela Macedo e Márcia Oliveira.
Monique Rutler: É uma realizadora franco-portuguesa. Teve o primeiro contacto com o cinema no meio familiar. Cursou Cinema no Instituto de Novas Profissões e na Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa. Em 25 de abril de 1974, saiu às ruas equipada com uma câmara de vídeo e filmou a alegria do povo ao longo das primeiras horas de libertação após o longo período de opressão política em Portugal.
Nélida Piñon: Primeira mulher a presidir a Academia Brasileira de Letras, escritora ganhadora de diversos prêmios no país como o Prêmio Jabuti, Prêmios Princesa das Astúrias, e outros, é conhecida por, dentre outros aspetos, voltar-se para a condição feminina na sua produção, utilizando sua escrita para tratar de diversos aspetos que envolvem a mulher, o lar e a família. Seus contos Ave de Paraíso(1973) e Colheita(1973) apresentam mulheres que refletem a situação feminina do período ditatorial articuladas a questões feministas.
Ver:
Vieira, D. C. P. (2020). A luta feminista no período ditatorial brasileiro: Representações da mulher em ’Ave de Paraíso’ e ’Colheita’ de Nélida Piñon. Diacrítica, 34(2), 203–220. https://doi.org/10.21814/diacritica.527
Fotografia Simone Marinho
Noémia de Sousa: Poeta moçambicana dos anos 40/50, contemporânea de José Craveirinha. Publicava os seus textos no jornal O Brado Africano. Pela temática assertiva em relação à cultura e identidade moçambicanas, confrontou as práticas coloniais do Estado Novo português, e tornou-se uma das principais vozes da oposição anti-colonial, embora tenha deixado de escrever quando veio viver para Portugal. A sua poesia tem a capacidade de desconstruir preconceitos eurocêntricos e racistas, o que confere à sua obra uma notável atualidade. A sua obra poética está reunida na antologia Sangue Negro (2000). Também traduziu do francês para português Discours sur le Colonialism (1955), do poeta Aimée Cesaire. É uma das figuras fundadoras da moderna literatura moçambicana escrita, e foi a primeira mulher moçambicana na literatura do seu país.
A escritora foi abordada no Seminário Work in progress apresentado pela investigadora Joana Passos – “As mulheres da geração de 50 e a resistência ao colonialismo/Estado Novo: Noémia de Sousa – A primeira mulher na literatura moçambicana”.
Ver artigo
Passos, J. F. da S. de M. V. (2020). A Casa dos Estudantes do Império (CEI), as poetas africanas da década de 50 e os filmes de Sarah Maldoror. Diacrítica, 34(2), 148–166. https://doi.org/10.21814/diacritica.515
Noémia Delgado: Realizadora portuguesa da época do Novo Cinema, que usava técnicas do cinema direto e antropologia visual, tanto em obras de ficção como em documentário. Representa um nome essencial do cinema português, ao qual esteve associada a partir dos anos sessenta.
A realizadora foi abordada no Seminário WOMANART #18 – 21 de fevereiro de 2020 – Patrícia Vieira (Universidade de Coimbra) – “Cinema Português no Feminino: O Meio Ambiente na Filmografia de Noémia Delgado e Teresa Villaverde”. Disponível em: https://youtu.be/EBrnBEMvwLc
Orlanda Amarílis (1924-2014): Escritora cabo-verdiana radicada em Portugal, escreveu três antologias de contos onde cruza reflexões sobre a condição do cidadão emigrante que vive numa cidade europeia com representações da vida cultural local de Cabo Verde nos anos 50/ 60. É a primeira escritora cabo-verdiana a deixar um legado literário com uma dimensão significativa, para além da esporádica colaboração na imprensa. Encontramos no seu trabalho uma arguta visão crítica da sociedade portuguesa, quer denunciando o período do Estado Novo (na sua dimensão colonial) quer expondo a sua dimensão racista, o que projeta a sua obra para os debates da atualidade. Numa fase mais tardia da sua carreira escreveu contos para crianças, trabalho que foi reconhecido em Cabo Verde, que instituiu um prémio de literatura infantil em seu nome. Um dos aspetos mais experimentais da sua escrita reporta-se à exploração do fantástico e do sobrenatural.
Paula Rego: Artista portuguesa, há longos anos residindo em Londres, considerada internacionalmente como uma das mais representativas e influentes pintoras contemporâneas, é particularmente conhecida como “pintora de histórias”. Célebre por suas pinturas, gravuras, desenhos e colagens complexas e sombrias, Paula Rego baseia-se em contos de fadas e folclore, literatura e sua própria biografia para criar quadros politicamente carregados e profundamente perturbadores.
Ver artigos:
Macedo, Ana Gabriela. “Resiliência criativa no feminino e re-significação da história em contraponto com a ‘manipulação de género’ do Estado Novo”. In: Diacrítica WOMANART, 34.2, 2020, 77-91. https://doi.org/10.21814/diacritica.564
Oliveira, Márcia. “De profundis: a cartography of the face in the work of Paula Rego”. In: Woman’s Art Journal 39 1 (2018): 23-31.
Oliveira, Márcia. “Portuguese Women Artists at the National Society of Fine Arts (1977): why was this not a feminist exhibition?”. In All Women Art Spaces in the Long 1970s, 209-228. Liverpool, Reino Unido: Liverpool: Liverpool University Press, 2018.
Artista abordada nas Comunicações:
‘At the movies: Paula Rego and Ana Hatherly’s transcultural dialogue with cinema’, na Conferência Women in Transition conference (Londres e Oxford, 20-22 de Setembro de 2018). Apresentação: Maria Luísa Coelho.
‘Celestina’s House: Paula Rego and the Aging Female Body’, Spanish Research Seminar series: The Female Body in the Iberian Peninsula, organizado pelo Departamento de Estudos Espanhóis da Universidade de Oxford (25 de Novembro de 2020).
A ser publicado:
Coelho, Maria Luisa (no prelo). “In the House of Celestina: Paula Rego and the Ageing Female Body,” in Maria-José Blanco and Claire Williams (eds.), Feminine Plural (Oxford; New York: Peter Lang)
Regina Silveira: Artista brasileira conhecida por seu trabalho com luzes, sombras e distorções explorando ideias de realidade. Silveira usou muitos meios de comunicação ao longo de sua carreira, mas se concentra principalmente em videografia, pintura e gravura (incluindo algumas litografias). É considerada uma figura crítica da arte conceitual brasileira, investigou a tensão entre movimento e perspetiva espacial, encaixando significados políticos em instalações que respondem a locais específicos.
Regina Vater: Artista visual americana nascida no Brasil, mais conhecida por sua obra de instalação inspirada nas mitologias brasileiras e afro-brasileiras. Na década de 1960, desenhou a primeira capa: de disco do movimento Tropicália, movimento artístico brasileiro associado aos músicos brasileiros Caetano Veloso e Gilberto Gil.
Reinata Sadimba: Escultora moçambicana de origem Makonde que participou ativamente nas lutas de libertação. Os seus trabalhos exploram a cerâmica de origem Makonde (sendo que a criação de figuras escultóricas como as que representa está tradicionalmente vedadas às mulheres, apenas autorizadas a produzir objetos utilitários), ao mesmo tempo que incorpora as suas próprias técnicas e concepções de feminilidade e maternidade em seres estranhos e fantásticos.
Rosana Paulino: Artista visual, educadora e curadora brasileira. Explora, como tema central, a investigação dos negros e, em particular, das mulheres negras na sociedade brasileira. Participou de diversas exposições de arte no Brasil e no exterior e recebeu diversos prêmios no Brasil por sua arte, com destaque para bolsas para realização de estudos acadêmicos e criação artística.
Artista abordada na apresentação:
An ethics of survival: process and archive in the work of Rosana Paulino and Ana Vidigal, Mesa Redonda WOMANART, Fazendo Gênero, Florianópolis. Apresentado por: Márcia Oliveira.
Módulo Curso breve Womanart: Imagem – documento – praxis: a arte como exercício de reinterpretação da história [Image – Document -Praxis: art as re-interpretation of history]. Apresentado por: Márcia Oliveira.
Sarah Affonso: Artista e ilustradora portuguesa criada na região do Minho, no norte do país. Adotando um estilo modernista, ela pintou cenas da vida rural na província de sua infância e retratos de mulheres camponesas. Em 1937 expõe no Salão do Secretariado da Propaganda Nacional (SPN), chefiado por António Ferro. As suas ‘alegorias festivas’ evocam a iconografia e o ruralismo minhoto, o figurado de Barcelos, o artesanato popular representado pelo casal Delaunay, Mário Eloy e Eduardo Viana. Este mesmo património nacional e ruralismo minhoto que é ideologicamente usado e abusado pelo Estado Novo e o seu mentor para a Cultura, A. Ferro, com o objectivo de conseguir ‘uma conciliação entre o modernismo e o nacionalismo estado-novista’, como escreve Ana Vasconcelos (p.20). A partir de 1939 S. Affonso interrompe a prática da pintura. Dedica-se a criar pequenos objectos de cerâmica, nomeadamente botões, bordados e ilustrações para revistas e livros, A Menina do Mar de Sophia M. Breyner). A sua arte ‘doméstica’ (ou domesticada) é fundamental para o sustento económico da casa (‘com linhas tb se pinta’, dizia).
Seminário WOMANART #14 – 29 de novembro de 2019 – Ellen W. Sapega (Universidade de Wisconsin-Madison) – “Retratos, paisagens, botões: O percurso artístico de Sarah Affonso”. Disponível em: https://youtu.be/arVb_djqiR0
Sapega, E. W. (2020). Retratos, paisagens, botões: O percurso artístico de Sarah Affonso (1899-1983). Diacrítica, 34(2), 21–28. https://doi.org/10.21814/diacritica.607
Sarah Maldoror: Cineasta francesa de origem caribenha. Fez dois filmes sobre o colonialismo português em Angola: uma curta metragem intitulada Monagambé (1968), que foi o seu filme de estreia, e o filme Sambizanga (1972), obra premiada, que denunciou ao mundo a repressão dos movimentos de libertação de Angola pelo regime português. Ativista fortemente envolvida com os movimentos de libertação africanos também fez filmes sobre a Guiné e documentários sobre poetas caribenhos envolvidos com o movimento cultural da Négritude, como Léon Damas e Aimé Cesaire. De sublinhar que no caso dos seus dois filmes sobre Angola, o guião é adaptado a partir de obras do autor angolano Luandino Vieira. Foi uma pioneira do cinema africano.
Solveig Nordlund: Realizadora sueco-portuguesa. Faz parte da primeira geração de realizadoras que começaram a trabalhar no cinema português antes da revolução de 25 de abril de 1974. Iniciou a sua carreira como montadora e começou a realizar documentários depois de 1974, tanto na Suécia como em Portugal. Os seus filmes foram apresentados em festivais como Locarno, Roma, Nova Iorque e Gotemburgo, entre outros. Como produtora, fez parte do Grupo Zero, Torromfilm, Cine-qua-non e Ambar Filmes. Encenou também teatro e fez trabalhos como artista visual.
Ver:
Pereira, M. E. (2020). Mulheres Cineastas Portuguesas e o Estado Novo: Da Invisibilidade à Memória Cultural. Diacrítica, 34(2), 62–76. https://doi.org/10.21814/diacritica.583
Susana de Sousa Dias: Realizadora portuguesa. Em seu documentário “Natureza Morta”, de 2005, utiliza apenas imagens de arquivo, sem áudio, retratando os anos de ditadura portuguesa. O seu documentário mais conhecido é o “48” de 2010, onde a realizadora desenvolve esta abordagem de montagem de fotografias. Ainda sobre o tema da ditadura, o filme mostra as fotografias de prisioneiros políticos, com a narração destes testemunhos sobre as suas experiências de torturas. No documentário “Luz Obscura”, de 2017, a realizadora volta às fotografias do arquivo utilizado em “48” e foca-se nas crianças tratadas como prisioneiros.
A realizadora foi abordada na publicação do Investigador Rui Miranda: “Looking back for ways ahead: Revisioning post-Dictatorship memories in Repare bem (Maria de Medeiros) and Luz Obscura (Susana de Sousa Dias)”. Em Diacrítica http://diacritica.ilch.uminho.pt/index.php/dia/article/view/567
Também foi abordada no Seminário WOMANART #20 – 19 de junho de 2020 – Carolin Overhoff Ferreira (Universidade Federal de São Paulo) – “Mulheres indisciplinares e seus filmes sobre a ditadura – Brasil e Portugal”. Disponível em: https://youtu.be/ZHg0wS1yauk
Luzia Maria Martins: Dramaturga, diretora e atriz portuguesa. Foi uma das primeiras mulheres portuguesas do teatro a singrar como encenadora e autora e a ter o seu mérito reconhecido a nível não só artístico, mas também intelectual e político. É considerada a mãe do teatro independente em Portugal, uma vez que inspirou a fundar, juntamente com Helena Félix, o TEL – Teatro Estúdio de Lisboa, em 1964. Foi uma das figuras da resistência ao regime do Estado Novo, proporcionando ao público português, através da sua força de vontade, o contacto com autores e textos centrais da dramaturgia europeia, tais como Strindberg, John Osborne, Edward Bond e Marguerite Duras, vindo a incluir no seu repertório autores então proibidos pela censura, como Sttau Monteiro e Maxwell Anderson.
Teolinda Gersão: Escritora e professora portuguesa. Autora sobretudo de romances, publicou até agora duas novelas (Os Teclados e Os Anjos) e quatro coletâneas de contos (Histórias de Ver e Andar, A Mulher que Prendeu a Chuva, Prantos, Amores e Outros Desvarios e Atrás da Porta e Outras Histórias). Está traduzida em 20 países. Quatro dos seus livros foram adaptados ao teatro e encenados em Portugal, Alemanha e Roménia. Vários contos deram origem a curtas metragens. Em 2020 publicou: ‘Alice e outras mulheres. Uma antologia de contos’ e seu último livro é ‘O regresso de Júlia Mann a Paraty’ (2021).
Teolinda participou do Workshop Womanart com uma apresentação intitulada “A voz das mulheres em ditadura”.
Tuca Siqueira: Roteirista e realizadora brasileira com diversos prêmios e incursões em curadorias, laboratórios de projetos, júri de festivais e oficinas ministrando aulas em diferentes áreas do audiovisual. Transitando pelo documentário e a ficção, dirigiu 8 curtas, 6 séries e os longa-metragens. Em “Vou contar para meus filhos”, “A Mesa Vermelha” e “Amores de Chumbo” a realizadora aborda questões da ditadura militar brasileira.
Vera Duarte: Escritora cabo-verdiana com uma longa e prestigiada carreira. Foi juíza desembargadora, Ministra da Educação e do Ensino Superior e conselheira da presidência da República de Cabo Verde. É igualmente uma reconhecida ativista pelos direitos humanos (prémio Norte-Sul do Conselho da Europa, 1995). Além de poesia, também escreveu ficção, ensaios e crónicas. Recebeu vários prémios internacionais como o prémio Prix Tchicaya U Tam’si de poesia africana (em 2001), Prémio Femina para Mulheres Notáveis 2020 e Prémio Literário Guerra Junqueiro 2021. Foi eleita Patrona dos Colóquios da Lusofonia em 2016, e é membro da Academia das Ciências de Lisboa desde maio de 2017, ano em que também se tornou Membro da Academia Gloriense de Letras (Brasil). É Membro da Academia Cabo-verdiana de Letras.
O programa Os Filhos da Madrugada da RTP Play traz 25 entrevistas com homens e mulheres, nascidos e criados em democracia. Uns mais conhecidos do que outros. Diferentes sensibilidades políticas, de diferentes áreas de trabalho e geografias. Um retrato concreto, particular do quotidiano do Portugal que hoje somos, 47 anos depois da revolução. No Ep. 101 o programa conta com a presença da escritora Djaimilia Pereira de Almeida.
O ciclo de seminários acoplado ao projeto WOMANART foi concebido como uma forma de convocar peritos nas áreas sob investigação, de forma a aprofundar, atualizar e aferir o conhecimento compilado e disseminado pela equipe de investigação reunida em torno deste projeto. Os seminários também são uma forma de divulgar o projeto, tanto a nível nacional como a nível internacional. Assim, ao longo dos 21 seminários já realizados foram convidados peritos de diversas universidades, sobretudo de Portugal, Brasil, EUA e Reino Unido. A equipe também procurou estender os convites a curadores, galeristas, escritores e artistas, privilegiando sempre a obra que nos foi legada por mulheres enquanto pensadoras ou criadoras de arte. Os temas dos seminários têm focado sobretudo as memórias filmadas, fotografadas ou escritas (em termos de ficção, drama e poesia) das ditaduras portuguesa e brasileira de meados do século XX, incluindo a vertente colonial da ditadura portuguesa. A própria história dos movimentos de mulheres durante este período também foi abordada por vários oradores, bem como as dificuldades de acesso a oportunidades e meios para as mulheres artistas.
Todos os seminários que foi possível filmar estão disponíveis online, no sítio do projeto.
O conjunto de entrevistas desenvolvidas pela equipe WOMANART tem por objetivo fixar um testemunho vivo do que foi viver e resistir às ditaduras de Portugal e do Brasil. As entrevistas reunidas dão voz a galeristas, jornalistas, cineastas, escritoras e artistas que nos falam do seu percurso pessoal e do seu legado. No caso de artistas mais recentes reflete-se sobre os reflexos do passado nas vivências e debates do presente.
Roteirista e realizadora brasileira com diversos prêmios e incursões em curadorias, laboratórios de projetos, júri de festivais e oficinas ministrando aulas em diferentes áreas do audiovisual. Formada em Comunicação (Universidade Federal de Pernambuco, UFPE), atuou como fotojornalista e se especializou em Estudos Cinematográficos (Universidade Católica de Pernambuco, UNICAP) acumulando estudos em outros centros como a EICTV (Cuba). Transitando pelo documentário e a ficção, dirigiu 8 curtas, 6 séries e os longa metragens. Em “Vou contar para meus filhos”, “A Mesa Vermelha” e “Amores de Chumbo” a realizadora aborda questões da ditadura militar brasileira.
Vou contar para meus filhos (curta metragem, documentário, 2011): Entre os anos de 1969 e 1979, 24 jovens mulheres estiveram presas na Colônia Penal Feminina do Bom Pastor, em Recife (PE), porque lutavam por igualdade social e pela democracia em uma época em que o Brasil enfrentava uma ditadura militar. Passados 40 anos, o reencontro delas, que hoje moram em diferentes estados do país, traz de volta não apenas os laços de solidariedade que surgiram no presídio, mas também a lembrança de um Brasil que tentou calar vozes e violentar sonhos.
Fonte: Tuca Siqueira (2011)
A Mesa Vermelha (longa metragem, documentário, 2012): Exibe depoimentos de 23 ex presos políticos no período da ditadura militar no Recife entre 1969, com a promulgação do AI 5 e 1979, com o advento da Lei da Anistia. Acompanha este documentário o debate entre os participantes,ao redor de uma mesa vermelha,sobre temas relacionados ao período da ditadura passando pelo golpe de 64, pela guerrilha do Araguaia, pela luta dentro das prisões em prol da anistia ampla, geral e irrestrita até a conjuntura atual.
Amores de chumbo (longa metragem, ficção, 2018): Um misterioso triângulo amoroso do passado ressurge anos depois. Miguel (Aderbal Freire Filho) e Lúcia (Augusta Ferraz) estão prestes a comemorar seu aniversário de 40 anos de casamento, mas a chegada de Maria Eugênia (Juliana Carneiro da Cunha) acaba atrapalhando os planos do casal, já que junto com seu retorno, voltam também as memórias dos amores vividos entre Miguel e Maria. Além dos horrores dos anos de chumbo, período da ditadura militar no Brasil.
Dia 07 de maio as 11h decorreu o Seminário WOMANART #30 com o tema Tradução e Interculturalidade. Neste seminário contamos com a presença de Margarida Vale de Gato (Universidade de Lisboa), Raja Litwinoff (Falas Afrikanas/ Literaturas Afrikanas) e Apolo de Carvalho (Associação Afrolis/ Coletivo Dijdiu – A herança do ouvido)
Margarida Vale de Gato traduz, escreve, e é professora auxiliar na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Traduziu Henri Michaux, Nathalie Sarraute, Yeats, Marianne Moore, Jack Kerouac, Sharon Olds, Louise Glück, entre outros. Doutorou-se em 2008 com uma tese sobre a receção de Edgar Allan Poe na lírica portuguesa da segunda metade do século XIX. Tem publicado ensaios dentro das suas áreas de especialidade como Translated Poe e Anthologizing Poe (co-organização com Emron Esplin, 2014 e 2020). Na sua obra literária, ontam-se os livros de poesia Lançamento (2016), a peça de teatro Desligar e Voltar a Ligar (com Rui Costa, 2011), e Mulher ao Mar (última edição, 2018).
Raja Litwinoff é autora em Literaturas Afrikanas , blog de divulgação de literatura de autoras e autores africanos, escritos em ou traduzidos para o português e do Pimpim di Ddoli, blog de divulgação do contador de histórias caboverdiano Lalacho / Horácio Santos, construído com ele nos seus últimos anos de vida. É também responsável pelo Afrofanzine, projeto de edição artesanal de textos de autoras e autores africanos, muito conhecidos em certos meios e com poucas publicações em papel e do Falas Afrikanas , projeto editorial de traduções de obras de autores africanos para o português
Apolo de Carvalho é cabo-verdiano, doutorando do Programa Pós-Colonialismos e Cidadania Global do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e Bolseiro Fundação para a Ciência e Tecnologia(FCT). Mestre em Relações Internacionais pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Mestre em Politique et Développement en Afrique e dans les Pays des Sud, pela Sciences Po Bordeaux. É licenciado em Relações Internacionais pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Membro da Afrolis-Associação Cultural, é investigador no projeto AFROPORT e membro do Coletivo Dijdiu – A herança do ouvido.
A liberdade está a passar por aqui (por Margarida Pereira)
No dia 25 de abril de 1974 eu tinha sete anos e ouvi a palavra Revolução pela primeira vez. Logo pela manhã foi uma das primeiras palavras que ouvi nesse dia, quando a minha Tia, ouvido colado ao rádio, me dizia muito empolgada, “Houve uma revolução em Lisboa”. Ao que eu respondi com a pergunta que se impunha, “O que é uma revolução?”. Ela lá me explicou, penso, que os militares estavam a derrubar a ditadura. Toda uma aprendizagem política. Fiquei a saber que vivíamos numa ditadura, que isso era horrível, que havia algo de empolgante a acontecer que iria mudar as nossas vidas. A minha aprendizagem da palavra revolução estava assim indissociavelmente ligada a um momento que era bom, que era fantástico e que foi acolhido lá em casa com a alegria que se iria alastrar pelas semanas e meses seguintes. A euforia desses dias ficou indelevelmente marcada na minha memória do 25 de Abril: as manifestações de rua, as palavras de ordem – “o Povo unido jamais será vencido” – a exaltação das vozes. Na verdade, parecia que todos queriam (precisavam) de falar ao mesmo tempo, como as crianças. Foi um momento de alegria coletiva, não há dúvida, de que bem me lembro. Aprendi outras palavras boas nesses dias, mas a mais presente, a mais marcante foi certamente a palavra Liberdade. Era uma palavra omnipresente nesses dias, como fica claro em algumas das canções que passamos a ouvir, como estas do Sérgio Godinho.
Aqui nesta praia onde Não há nenhum vestígio de impureza, Aqui onde há somente Ondas tombando ininterruptamente, Puro espaço e lúcida unidade, Aqui o tempo apaixonadamente Encontra a própria liberdade.