Curadoria enquanto presença: marcas da autoria e percursos de leitura
Breve resumo: Minha atual pesquisa, realizada no âmbito do PNPD/Capes no PPG em Estudo de Linguagens da Universidade do Estado da Bahia, parte da trajetória do conceito de curadoria, relativamente recente no campo das artes visuais, para pensar em empreendimentos literários em que a autoria parece sugerir um caminho de leitura para os seus próprios textos. Este gesto da autoria, que não nega a autonomia da recepção já defendida por teóricos como Eco (1994), relaciona-se à escolha dos aportes de produção utilizados nas obras, uma vez que são textos literários que fazem uso de diferentes gêneros ou sistemas artísticos em sua concepção. A partir da leitura de obras de autoras contemporâneas, analiso como as noções de curadoria e, em um segundo momento, livro de artista podem ser articuladas para pensar a organização do texto como preparação de uma visita guiada ou, em último caso, em uma espécie da receção ensejada pela autora.
Mulheres indisciplinares e seus filmes sobre a ditadura – Brasil e Portugal
Breve resumo: Este seminário abordará duas cineastas, uma brasileira e uma portuguesa, e seus filmes sobre o período da ditadura, nomeadamente Susana de Sousa Dias e Flávia Castro. Abordará brevemente a ideia de filmes indisciplinares e depois apresentará estudos sobre os filmes 48 e Natureza Morta, Diário de uma Busca e Deslembro.
Nota biográfica: Carolin Overhoff Ferreira é professora associada nos cursos de graduação e pós-graduação em História da Arte da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), Campus Guarulhos. É também credenciada no program de pós-graduação em Filosofia na Unifesp. Possui pós-doutoramento sênior pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP) em cinema. Estudou Ciência de Teatro/Seminário de Cinema e História da Arte na Universidade de Viena (1990), University of Bristol (1991), Universidade Humboldt, Berlim (1992), e Universidade Livre de Berlim (1993). Possui mestrado em Ciência de Teatro e História da Arte (1993) e doutorado em Ciência de Teatro (1997) pela Universidade Livre de Berlim. Foi professora convidada e pesquisadora com bolsa Torch na Universidade de Oxford em 2019; professora adjunta convidada com exclusividade no Curso de Som e Imagem, Universidade Católica Portuguesa, Porto de 2000-2007; professora convidada em 2006 na Universidade de Coimbra, docente na Universidade Livre de Berlim em 1999 e entre 1995-1999 na Universidade de Ciências e Artes Aplicadas em Hannover. Tem experiência como docente e pesquisadora na área de Artes, com ênfase em cinema, teatro e arte contemporânea; critica, teoria e história das artes. No campo das artes aplicadas atuou como dramaturgista (Teatro Nacional de Hannover, Ópera Nacional de Stuttgart, projetos teatrais com financiamento federal e estadual em Portugal e no Brasil) e como crítica de teatro (Folha de São Paulo). Estuda a relação entre arte e política através dos seguintes temas: teoria e história do cinema, do teatro e da arte; cinema, arte e dramaturgia contemporâneas; diálogos interartes e adaptações literárias; cinemas de língua portuguesa, suas identidades nacionais e transnacionais, e suas relações coloniais e pós-coloniais.
Dia 29 de maio ocorreu o Seminário WOMANART #19 online, com a presença da Professora e Pesquisadora Joana Pedro da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Os feminismos e as possibilidades democráticas para as mulheres no Brasil
O objetivo desta atividade é destacar as pautas, os ganhos, as dificuldades e retrocessos, que os movimentos de mulheres e feministas obtiveram na instável democracia que se instalou no Brasil após o final da ditadura militar. Pretendo focalizar a presença de mulheres nos setores públicos, nas universidades e nas ONGs. Abordarei a narrativa de tensões e outra de pontes e alianças, entre o movimento de mulheres e feministas e a academia. Serão, também, destacadas as contribuições do movimento feminista ao campo da pesquisa acadêmica, especialmente à historiografia e ainda às ressonâncias das pesquisas sobre o próprio movimento feminista. Utilizarei, para estas reflexões: textos, relatórios, artigos que, por vezes, se antagonizam, e, por vezes, conciliam.
Os WIPS (Work in Progress Seminars) ocorrem mensalmente e internamente com a equipa do GAPS e têm por objetivo a apresentação e discussão dos trabalhos em desenvolvimento no âmbito do projeto WOMANART.
Devido às orientações para controle e contenção da COVID-19, os seminários WIPS passaram a ocorrer via teleconferência (via Zoom).
Nos primeiros encontros, realizados durante os meses de abril e maio, conversamos sobre os filmes a serem exibidos na segunda edição do Ciclo de Cinema WOMANART, entre outras obras cinematográficas que de alguma forma relacionam-se à temática do projeto.
Além dos filmes que faziam parte da programação do nosso Ciclo de Cinema, a saber: “Que bom te ver viva“, de Lucia Murat, “Atrás de portas fechadas“, de Danielle Gaspas e Krishna Tavares e “Terceiro Andar“, de Luciana Fina; tratamos também do filme “Sambizanga“, de Sarah Maldoror e “Natureza morta”, de Susana de Sousa Dias.
Nessas reuniões, debatemos como esses filmes evidenciam questões de memória, identidade e trauma decorrentes da acção do Estado Novo e da Ditadura Militar no Brasil, bem como do colonialismo Português em África.
Dia 21 de fevereiro, às 11 h, na sala de reuniões do CEHUM, ocorrerá o Seminário WOMANART #18,com Patrícia Vieira do Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra com a apresentação: “Cinema Português no Feminino: O Meio Ambiente na Filmografia de Noémia Delgado e Teresa Villaverde”.
Breve resumo:
Quais os contornos de um cinema português de mulheres? Existirá uma linguagem comum, temas partilhados, uma genealogia cinematográfica? Procurar-se-á aqui responder a estas questões através da análise da filmografia de Noémia Delgado e Teresa Villaverde, que representam dois momentos marcantes do cinema português contemporâneo: a transição do Estado Novo para a democracia e o cinema do Portugal globalizado dos anos 2000.
Nota biográfica:
Patrícia Vieira é Investigadora FCT (Desenvolvimento) no Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra. As suas áreas de investigação são Literatura Ibérica e Latino-Americana, Humanidade Ambientais e Ecocrítica, Literatura Comparada, Literatura e Cinema, Estudos Pós-Coloniais e Teoria Literária. É autora dos livros “States of Grace: Utopia in Brazilian Culture” (Nova Iorque: SUNY UP, 2018), “Portuguese Film 1930-1960: The Staging of the New State Regime” (Nova Iorque: Bloomsbury, 2013), tradução revista de “Cinema no Estado Novo: A Encenação do Regime” (Lisboa: Colibri, 2011), e de “Seeing Politics Otherwise: Vision in Latin American and Iberian Fiction” (Toronto: Toronto UP, 2011). Co-editou os volumes “Portuguese Literature and the Environment” (Lanham: Lexington Books, 2019), “The Language of Plants: Science, Philosophy, Literature” (Minneapolis: Minnesota UP, 2017), “The Green Thread: Dialogues with the Vegetal World” (New York: Lexington Books, 2015), “Existential Utopia: New Perpectives on Utopian Thought” (Nova Iorque: Continuum, 2011) e “Imagens Achadas: Documentário, Política e Processos Sociais em Portugal” (2014). Está de momento a trabalhar num projeto que involve uma interpretação ecocrítica de literatura sobre a floresta amazónica e a preparar uma monografia sobre este tema: “Ecocritical Approaches to Amazonian Writings.” Está também a editar um livro intitulado “The Environment in Brazilian Culture: Literature, Cinema and the Arts” e um número especial da revista académica “Journal of Latin American Cultural Studies” sobre “The Amazon River Basin in Contemporary Latin American Culture.”
Decorreu, nesta sexta-feira, 07/02, o Seminário #17 do Ciclo de Seminários WOMANART. Contamos com a presença de Manuela Tavares do Centro Interdisciplinar de Estudos de Género do Instituto Superior de Ciências Sociais e Politicas (ISCSP) da Universidade de Lisboa, com a apresentação: “Mulheres, Culturas e Revoluções”.
Breve resumo:
Pretende-se equacionar de que modo as revoluções, neste caso, a revolução francesa e a “revolução” do 25 de abril de 1974 em Portugal, produziram mudanças culturais facilitadoras de caminhos para os feminismos. De que modo a revolução francesa reforçou a dicotomia público-privado para as mulheres? De que modo, o 25 de abril de 1974, apesar de ter aberto campo para os direitos das mulheres não foi capaz de avançar para as questões ditas do “privado” como a violência contra as mulheres ou a despenalização do aborto? De que forma os tempos da ditadura em Portugal cercearam a criatividade e as ideias feministas que se desenvolviam em outros países na década de 1960? Analisar estas e outras questões é o percurso que se pretende dar a esta conferência.
Nota biográfica:
Manuela Tavares é Doutorada na área de Estudos sobre as Mulheres, com o tema “Feminismos na segunda metade do século XX em Portugal”, Manuela Tavares é investigadora integrada no Centro Interdisciplinar de Estudos de Género do ISCSP – Instituto Superior de Ciências Sociais e Politicas da Universidade de Lisboa, investigadora colaboradora no Centro de Migrações e Relações Interculturais da Universidade Aberta e coordenadora do Centro de Documentação e Arquivo Feminista Elina Guimarães. Foi também Membro da Comissão Promotora e da Comissão Organizadora do Congresso Feminista 2008, realizado em Lisboa na Fundação Calouste Gulbenkian, foi Membro da Comissão Organizadora e da Comissão Promotora do Seminário Evocativo do I Congresso Feminista e da Educação (2004), bem como Membro da Delegação de ONG’s Portuguesas à Conferência das Nações Unidas sobre Direitos das Mulheres em Pequim (1995), tendo sido Representante Portuguesa no Lobby Europeu de Mulheres entre 1992 e 1996, bem como Presidente da UMAR – União de Mulheres Alternativa e Resposta de 1989 a 1996. É autora de diversos trabalhos sobre temáticas ligadas aos Estudos sobre as Mulheres, Estudos de Género e Estudos Feministas.
A cadeira da realizadora: dos lugares inacessíveis na
História da Arte, em Portugal
Falar da
História do Cinema, em Portugal, é falar da História de uma arte que se
desenvolve a cada ano, por todos os avanços técnicos e correntes estéticas que
foram alterando e influenciando o seu desenvolvimento. Em Portugal, como em
muitos países europeus, falar de História do Cinema é também falar do contexto
político e de um período ditatorial que se prolonga por 48 anos, marcando todas
as narrativas e imagens produzidas nesse tempo.
Estudar
cinema português, de uma perspectiva autoral de género, e reflectir sobre quem
são as mulheres que filmaram/filmam em Portugal é o principal objectivo desta
apresentação, promovendo, desse modo, um olhar panorâmico sobre mais de um
século de História. Em termos metodológicos, privilegia-se uma abordagem sociológica
e quantitativa. Concentrar-nos-emos na identificação de mulheres que realizaram
ficções de longa-metragem, em Portugal, pela conjugação de dois factores: a
noção generalizada de um maior número de cineastas dedicadas ao documentário
(género mais acessível em termos financeiros e de gestão de equipas menores), o
que transforma a ficção num exercício disruptivo; e a própria importância da
representatividade da mulher quando filmada por outras mulheres.
Ao centrarmos o nosso
estudo em filmes realizados por mulheres, buscamos mais do que a arquetípica
sensibilidade, composta por elementos místicos e uma essência indefinida. O que
procuramos identificar é a partilha de uma vivência comum e/ou a denúncia da
perpetuação de determinadas desigualdades de género. Nesse sentido, estudar
mulheres-cineastas ultrapassa a canonização de traços identitários excludentes,
estereotipados e socialmente rígidos, pressupondo, ao invés, a identificação de
possíveis trocas de experiências (conceito recorrente nos estudos feministas
por englobar, em si, subjectividade, sexualidade, corpo, educação e política),
bem como a partilha de uma estrutura prático-inerte comum a todas as mulheres,
que poderão, ou não, definir-se dessa forma.
Nota biográfica:
Ana Catarina Pereira é docente na Universidade da Beira Interior e doutorada em Ciências da Comunicação, na vertente Cinema e Multimedia, pela mesma universidade. É representante da Faculdade de Artes e Letras na Comissão para Igualdade da UBI e investigadora do centro LabCom. É licenciada em Ciências da Comunicação pela Universidade Nova de Lisboa e mestre em Direitos Humanos pela Universidade de Salamanca.
É autora dos
livros A Mulher-Cineasta: Da arte pela arte a uma estética da
diferenciação (2016) e do Estudo do Tecido Operário Têxtil da
Cova da Beira (2007). Co-organizou as obras Cinema e Outras Artes (I e II) (2019); Filmes (Ir)refletidos (2018); e Geração Invisível: Os novos
cineastas portugueses (2013), entre outras. É autora de diversos
artigos científicos publicados em revistas nacionais e internacionais. Já deu
diversas conferências, acções de formação, workshops e masterclasses em
Brasil, Espanha, Inglaterra e Suécia, entre outros países. Entre 2017 e 2019
foi directora do curso de Ciências da Cultura, da UBI.
Trabalhou vários anos
como jornalista. Foi co-fundadora e directora da revista online Magnética
Magazine e colaborou com as publicações Notícias Sábado e Notícias
Magazine (Diário de Notícias), jornal I,
revista Focus, entre outras. É regularmente convidada para ser
júri de festivais ou fazer curadoria de exposições e ciclos de cinema. Sendo
uma das fundadoras da Conferência Internacional de Cinema e Outras Artes,
realizada anualmente, na Universidade da Beira Interior, é também coordenadora
do GT de Estudos Fílmicos da SOPCOM.
Os seus interesses de investigação incidem em estudos feministas, estudos fílmicos, estudos culturais, pedagogia nas artes, cinema português e outras cinematografias minoritárias. Gere o site Universal Concreto, com informação actualizada sobre o seu trabalho: https://www.universalconcreto.org/
Victoria Torres: Cine, guerra y género a través del ejemplo de la película argentina Fuckland (2000)
En el seminario analizaré la película Fuckland (2000), escrita y dirigida por José Luis Marqués, partiendo de una realidad extra ficcional: el engaño del que fuera objeto toda la sociedad argentina durante la guerra de Malvinas y en los primeros años del postconflicto. Inicialmente revisaré la forma en que este largometraje, al que su director califica como perteneciente a la “ficción/verdad”, pone a funcionar la cuestión del engaño en casi todos sus niveles, activando así mecanismos que, por un lado, apuntan a crear un sentimiento patriótico en el espectador argentino y, por el otro, le generan incertidumbre y hasta rechazo al respecto, habilitando una perspectiva crítica necesaria y casi ausente en las representaciones culturales que abordan este importante hecho histórico de 1982. Posteriormente pasaré al segundo foco de mi análisis en donde trataré más en detalle las representaciones de lo femenino y su función en el marco discutido en primer lugar, y finalmente intentaré establecer las coordenadas que podrían existir entre el producto cinematográfico de Marqués, la guerra de Malvinas y la cuestión de género.
Cristina Wolff em direto/ao vivo por webconferência – Gênero, emoções e afetos na política – ou de como a política é humana
Retratos, paisagens, botões: O percurso artístico de Sarah Affonso
Breve resumo:
Com as duas exposições dedicadas à produção artística de Sarah Affonso (1899-1983) recentemente organizadas pelo Museu Calouste Gulbenkian e o Museu Nacional de Arte Contemporânea, torna-se possível, pela primeira vez, avaliar de forma abrangente a obra de Sarah Affonso, uma das artistas portuguesas mais originais da primeira metade do século XX. A sua atividade começa nos anos da República e a continua sob o Estado Novo. Embora a produção de Sarah Affonso não reflita explicitamente esta mudança de regime, é possível, no entanto, interpretar as diferentes fases da sua obra à luz do contexto sociopolítico.
Nota biográfica:
Ellen W. Sapega atualmente atua como diretora do Institute for Regional andInternational da Universidade de Wisconsin-Madison. Suas publicações incluem artigos e capítulos de livros sobre modernismo português, memória, cultura visual e comemoração desde o final do século 19, literatura cabo-verdiana e o romance português contemporâneo. Atualmente, está trabalhando em um livro sobre representações visuais e literárias de Lisboa, Portugal, durante o final do século XX e o início do século XXI.
Disciplinar e fugir. Olhares fotográficos femininos através da lente e da página
Breve resumo: A fotografia, tantas vezes entendida como espaço visual de confinamento e disciplina, encerra também inesperadas formas de futuro e de possibilidade. A partir de casos de mulheres fotógrafas e de mulheres fotografadas, entre as décadas de 1930 e 1970, esta sessão analisa de que modo a imagem fotográfica, em especial na página impressa, permite criar formas alternativas de subjectividade feminina e, ao mesmo tempo, redefinir os contornos de uma história da fotografia onde as mulheres tendem a ser tão celebradas quanto excluídas. Será dado particular destaque à questão do humor e da “fugitividade” das imagens, entendendo este conceito não apenas como o oposto da ideia de aprisionamento, mas sobretudo como um estado de recusa em “permanecer no seu lugar.” Neste sentido, sugere-se que essa recusa das imagens “fugitivas” pode ser silenciosa, mas constitui um continuado e resiliente esforço de liberdade.
Nota biográfica: Susana S. Martins é Professora Auxiliar Convidada e Investigadora integrada do Instituto de História da Arte, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade NOVA de Lisboa. Doutorada em fotografia e estudos culturais pela Katholieke Universiteit Leuven (KULeuven), Bélgica, ensina actualmente na área da fotografia e das artes visuais. A sua investigação tem privilegiado a história e a teoria da fotografia na intersecção com o campo das exposições, das culturas editoriais e das identidades nacionais. Membro do grupo de Museum Studies, co-editou recentemente o número da Revista de História da Arte “The Exhibition: Histories, Practices, Policies” (2019). Tem participado em diversos projectos no campo dos estudos literários e artísticos, integrando actualmente a equipa do projecto FCT Fotografia Impressa: Imagem e Propaganda em Portugal. Publicou, com Anne Reverseau, o livro Paper Cities. Urban Portraits in Photographic Books (Leuven University Press, 2016) e é investigadora do Lieven Gevaert Research Centre for Photography, Art and Visual Culture.